GÊNERO MEMÓRIAS - 2008

As memórias postadas nesta página foram escritas pelos  alunos do Colégio Estadual Professora Alzira dos Santos da Silva, durante a Olimpíada de Língua Portuguesa 2008 sob a orientação da professora Janea Dias.

Texto VENCEDOR do Escrevendo o Futuro no Colégio Estadual Professora Alzira dos Santos da Silva.
Categoria II – Memórias


Sonhos e Lembranças de Minha Vida


São João de Meriti é uma cidade que fica localizada na baixada fluminense, no Rio de Janeiro. Eu gosto muito de morar aqui. Um dia estava na escola quando a diretora Dona Élia resolveu contar um pouco da sua história nessa cidade.
Nasci em 1944, em Minas Gerais e vim morar aqui com seis anos de idade. Naquela época a paisagem era bem diferente.
Existiam as chamadas ruas de terra. A Getúlio de Moura, que existe hoje, nem se compara àquela rua de barro e cheia de lama que eu passava para ir para casa. São João de Meriti era um lugar calmo e muito bom de se morar. Onde fica o Banco Itaú era um parque de diversões, em que eu costumava ir às tardes de domingo brincar com os meus amigos. Quando chegava fevereiro, era só alegria. Todos os moradores iam para a Praça da Matriz, no centro, onde havia um coreto – construção com teto e sem paredes, usado para concertos musicais – e acontecia o carnaval.
Como era muito pobre, comecei a trabalhar aos sete anos de idade ajudando o meu pai a vender ovos, por isso não tive a oportunidade de estudar.
Ainda bem pequena, trabalhei em casas de famílias. Em uma dessas, havia uma patroa que era professora e ensinava seus filhos em casa e eu “bisbilhotando” aprendi a ler e a escrever. Tentei entrar numa escola, mas não consegui, unicamente por ser canhota. Então continuei minha vida trabalhando e quando chegava em casa tinha mais trabalho. Como não tínhamos água encanada, eu precisava ir pegar água no bicão.
O tempo passou e aos dezoito anos realizei meu sonho e entrei em uma escola. Quando estava cursando o científico me casei e fui morar em Jacarepaguá, mas mesmo assim continuei vindo a São João de Meriti estudar. Hoje São João de Meriti está bem diferente e eu também, agora tenho uma condição de vida melhor, sou diretora do Colégio Estadual Professora Alzira dos Santos da Silva e minhas lembranças de infância e da minha vida em São João de Meriti vou guardar para sempre.



Autora: Lohraine dos Reis Gregório
Aluna do 9º ano – Turma: 901



OBSERVAÇÃO:

O texto foi confeccionado a partir de uma entrevista realizada em sala de aula com uma antiga moradora da comunidade, a Professora e diretora adjunta do Colégio Estadual Professora Alzira dos Santos da Silva, Élia Alves Pires.


Texto semifinalista do Escrevendo o Futuro no Colégio Estadual Professora Alzira dos Santos da Silva e vencedor da turma 902.
Categoria II – Memórias


Antigas ruas de barro

            Meu nome é Élia Alves Pires. Nasci em Minas Gerais, em mil novecentos e quarenta e quatro. Vim para São João de Meriti com a minha família em mil novecentos e quarenta e sete. Logo que chegamos aqui, meu pai, inocente, foi assaltado e perdeu todo o dinheiro que trazia de Minas Gerais das vendas de nossos bens. Mas, ele nunca perdeu a esperança. Arrumou uma casa humilde para morarmos, em que nossos cobertores eram folhas de jornais ganhados de vizinhos. Quando chovia alguns de nós ficávamos num banquinho olhando o tempo passar. Minha mãe cozinhava, em um fogareiro a carvão, a pouca comida que tínhamos.
            Com os meus oito anos de idade comecei a trabalhar em uma casa de família. Trabalhava de segunda à sexta-feira. Aos sábados, quando chegava em casa, dava o dinheiro que recebia para os meus pais e ia brincar com os meus amigos.
            Nossas brincadeiras mais divertidas eram jogar bola de gude nas antigas ruas de barro e descer o morro rolando dentro de um latão. Era emocionante aquela época...
            Antigamente, São João, mesmo com suas dificuldades, era uma cidade feliz. Na Praça da Matriz as famílias se reuniam em segurança. Quando chegava o carnaval, a vida era só alegria. Nos antigos cinemas pulávamos e dançávamos. Na Praça da Matriz, onde havia um antigo coreto, eram realizadas festas maravilhosas.
            Embora eu tenha entrado numa escola pela primeira vez aos dezoitos anos, uma pessoa muito especial me incentivou a não parar de estudar. Hoje o meu sonho foi realizado. Sou formada em História pela Universidade Gama Filho, dirijo uma escola em São João de Meriti (Vila Tiradentes), de onde só quero sair morta.




Autora: Karine Andrade Vieira
Aluna do 9º ano – Turma: 902





OBSERVAÇÃO:

O texto foi confeccionado a partir de uma entrevista realizada em sala de aula com uma antiga moradora da comunidade, a Professora e diretora adjunta do Colégio Estadual Professora Alzira dos Santos da Silva, Élia Alves Pires.


Texto semifinalista do Escrevendo o Futuro no Colégio Estadual Professora Alzira dos Santos da Silva e vencedor da turma 802.
Categoria II – Memórias


Caminhos que percorri

            Cresci em São João de Meriti. Aquela pequena cidade, com grandes espaços vazios, casas simples, sem luz e casas de pau-a-pique. Assim que cheguei encontrei um grande problema, a falta d’água. Tínhamos que carregar latas d’água nas mãos e na cabeça e isso era muito cansativo. Imagine, eu, uma criança de sete anos de idade, com latas nas mãos andando de um lado para o outro. Eu estava triste até que chegou uma ótima notícia, a energia elétrica chegou para iluminar os nossos caminhos.
            Eu, com a minha família, passamos por vários momentos ruins, mas também por vários momentos bons. Comecei a trabalhar muito nova e a estudar muito tarde. Sempre fui uma menina esforçada, porém eu tinha muita dificuldade de aprender.
            No começo da minha adolescência, ainda com os pensamentos de uma criança, porém pensamentos bons e positivos, eu resolvi fazer a minha Primeira Comunhão sem a aprovação dos meus pais. Minha mãe, ao saber da minha desobediência, me deu uma surra com palmadas que pouco doeram, mas que ficaram em minha mente por toda a minha vida.
            Tempos se passaram e eu já crescida estava, para praça eu já ia passear com minhas amigas. Andávamos de um lado para o outro ao redor de um belo chafariz. Nos tempos de hoje já não conseguimos passear. Lindas pessoas andavam com muita tranqüilidade sem medo de serem assaltadas ou mortas. Hoje não andamos a noite porque corremos risco de vida. No fim da tarde, já cansada de tanto andar, busquei me recolher em minha “casinha”, que hoje já não mais existe e peguei no sono buscando os meus sonhos de cuidar do próximo como enfermeira. Tentei por várias vezes conquistar um sonho que por meus pais não era aprovado. Dizem que praga de mãe pega, mas esqueceram das pragas de pai. Enfim, não concluí o meu sonho por parecer profissão de mulher à toa. Então dividi a riqueza de meus sonhos em ajudar ao próximo mas ensinando o começo dos sonhos em forma de lições. Hoje, sou professora e dediquei mais de trinta anos em ajudar os meus alunos e ajudar a mim com meus sonhos.



Autora: Larissa Costa
Aluna do 8º ano – Turma: 802
                                                                                  Ano: 2008

OBSERVAÇÃO:

O texto foi confeccionado a partir de uma entrevista realizada em sala de aula com uma antiga moradora da comunidade, a Professora Marina da Conceição Raimundo da Silva.